quinta-feira, 20 de setembro de 2012

No Grande Adeus


Cerraste os olhos dos entes amados, orvalhando-lhes o rosto inerte com as lágrimas que te corriam da ternura despedaçada, e inquiriste, sem palavras, para onde se dirigiam no grande silêncio.
Disseste adeus, procurando debalde aquecer-lhes as mãos frias, desfalecentes nas tuas, e colaste neles o ouvido atento, no peito hirto, indagando do coração prostrado a razão porque parou de bater.
Entretanto, o vaso impassível nada pode informar, quanto à destinação do perfume.
Ergue as antenas da prece, no santuário da tua alma, e perceberás o verbo inarticulado dos que partiram...
Saberás, então, que te comungam a dor, estendendo-te as mãos ansiosas. Arrojados à vida nova, querem dizer-te que ressurgiram. Extasiados, perante o sol que a imortalidade lhes apresenta, suspiram por transfundir a saudade e o amor, no cálice da esperança, para que não desfaleças.
Libertos do cárcere em que ainda te encontras, rogam-te a paz e conformação, para que possam, enfim, demandar a renascente manhã que lhes acena dos cimos...
Não lhes craves nos ombros a cruz da aflição, nem lhes turves a mente, no nevoeiro de pranto que te verte da angústia.
Honra-lhes a memória, abraçando os deveres que te legaram, e ajuda-os para que avancem com a tua benção, de modo a te prepararem lugar, na pátria comum, em que todos nos reuniremos um dia.
São agora companheiros que te pedem fidelidade e consolo para que te confortem, à maneira da árvore que solicita a rega da fonte a fim de preservar-se contra a secura.
Ante o fel da separação, trabalha com paciência e confia neles!... E quando a agonia da suposta distância te constrinja os refolhos do espírito, deixa que eles próprios te falem ao pensamento, sob a luz da oração.

(Mensagem extraída do livro "Justiça Divina", Emmanuel, psicografia de Chico Xavier, FEB)

terça-feira, 11 de setembro de 2012

MÉDIUM INESQUECÍVEL



Estudando mediunidade e ambiente, recordemos um dos médiuns inesquecíveis dos dias apostólicos: Paulo de Tarso.
Em torno dele, tudo era contra a luz do Evangelho.
A sombra do fanatismo e da crueldade não se instalara apenas no Sinédrio, onde se lhe situava a corte dos mentores e amigos, mas também nele próprio, transformando-o em perigoso instrumento da perseguição e da morte. Feria, humilhava e injuriava a todos os que não pensassem pelos princípios que lhe norteavam a ação.
Mas, desabrocha-lhe a mediunidade inesperadamente. Vê Jesus redivivo e escuta-lhe a voz. Aterrado, reconhece os enganos em que vivera.
Entretanto, não perde tempo em lamentações inúteis.
Não sucumbe desesperado. Não se confia à volúpia da autocondenação. Não foge à luta pela renovação íntima. Percebe que não pode recolher, de pronto, a simpatia da família espiritual de Jesus, mas não se sente fracassado por isso. Observa a extensão dos próprios erros, mas não se entrega ao remorso vazio. Empreende, com sacrifício, a viagem da própria renovação.
Para tanto, não reclama a cooperação alheia, mas dispõe-se, ele mesmo, a colaborar com os outros. Encontra imensas dificuldades para a iluminação da alma; no entanto, não esmorece na luta.
Segundo a palavra fiel do Novo Testamento, é açoitado e preso, várias vezes, pelo amor com que ensinava a verdade, mas, em contraposição, na Licaônia e na Macedônia, foi tido como sendo “Mercúrio” encarnado e “Servo do Pai Altíssimo”. Não se sente, todavia, esmagado pela flagelação ou confundido pelo êxito. Tolera assaltos e elogios como o pagador correto, interessado no resgate das próprias contas.
Diz ainda a Boa-Nova que “Deus operava maravilhas pelas mãos dele”; entretanto, ele próprio declara trazer consigo “um espinho na carne”, que o obriga a viver em provação permanente. E enquanto o corpo lhe permite, dá testemunho da realidade espiritual, combatendo ignorância e superstição, maldade e orgulho, tentação e vaidade.
Nem ouro fácil.
Nem privilégios.
Nem cidadela social.
Nem apoio político.
Ele e o tear que o ajudava a sustentar-se ficaram, através dos séculos, como símbolo perfeito de influência pessoal e meio adverso, ensinando-nos a todos, principalmente a nós outros, encarnados e desencarnados de todos os tempos, que podemos pedir orientação, falar em orientação, examinar os sistemas de orientação, mas que, acima de tudo, precisamos ser a própria orientação em nós mesmos.
 
(Do livro "Seara dos Médiuns", de Emmanuel, psicografado por Chico Xavier, FEB)