domingo, 4 de setembro de 2016

Espelho da Vida


Ele sempre vivera naquele tranquilo e fértil oásis no coração do deserto.
Entre tamareiras frondosas, figueiras velhas e verdes, águas abundantes, ele aprendera a amar a vida e a dedicar-se a servi-la. A sua palavra era sábia e o seu coração afável.
Muitas vezes permanecia junto a uma das fontes cristalinas, conversando com peregrinos e viajantes, ou simplesmente contando histórias aos que se lhe acercavam.
Oportunamente, um estranho viandante suarento, após saciar a sede e lavar o rosto, ao experimentar um grande bem-estar, interrogou-lhe:
-Como são as pessoas daqui?
E ele, tranquilo, contra-interrogou:
-Como são as pessoas do lugar de onde você vem?
Queixou-se, o recém-chegado:
-São perversas, invejosas, odiendas. Têm o mau hábito de perturbar o seu próximo, de se envolverem na vida alheia, de gerar conflitos e aranzéis.
-Mas, as daqui, também são assim, com essas mesmas características – respondeu, tranquilo.
- Se assim é, não ficarei aqui. – Explodiu, o viajante.
Logo após alguma reflexão, partiu.
No fim da tarde, acercou-se da fonte um jovem jornadeiro, que sorveu o líquido precioso, refrescou-se, e sentindo que o ancião o observava, indagou, gentil:
-Por favor; pode informar-me como são as pessoas desse oásis?
Conforme acontecera antes, o interpelado contra-interrogou:
-E como são aquelas do lugar de onde você vem?
-Oh! – respondeu, sorrindo – são generosas, alegres, muito camaradas, ajudando ao seu próximo em tudo quanto é possível. Sinto-me muito vinculado a elas.
As daqui também são assim. – Concluiu.
O jovem, interessado, meditou um pouco e logo aduziu:
-Ficarei uma temporada aqui.
Um homem, que ali estivera por todo aquele tempo, observando os acontecimentos, e parecendo-lhe paradoxal a resposta, inquiriu, por sua vez, ao idoso gentil:
-Como é possível que, ante duas perguntas iguais, o senhor haja dado duas respostas diferentes?
-As respostas – asseverou – são perfeitamente idênticas, em relação a cada qual. As pessoas, em toda parte, são iguais, com defeitos e com nobreza, com abnegação e vícios. Conforme cada qual as vê, assim também é aquele que as considera. Sempre carregamos conosco o mundo, que tem os contornos que lhe oferecemos.
A pessoa saudável e amiga sempre a tudo vê por essas lentes, qual ocorre com o avaro e perverso.

(Do livro “A BUSCA DA PERFEIÇÃO”, Espírito Eros, psicografia de Divaldo P. Franco)

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