terça-feira, 27 de setembro de 2016

O “MAS” E OS DISCÍPULOS
“Tudo posso naquele que me fortalece.”
Paulo (Filipenses, 4:13)
           
          O discípulo aplicado assevera:
– De mim mesmo, nada possuo de bom, mas Jesus me suprirá de recursos, segundo as minhas necessidades. Não disponho de perfeito conhecimento do caminho, mas Jesus me conduzirá.
          O aprendiz preguiçoso declara:
– Não descreio da bondade de Jesus, mas não tenho forças para o trabalho cristão. Sei que o caminho permanece em Jesus, mas o mundo não me permite segui-lo.
          O primeiro galga a montanha da decisão. Identifica as próprias fraquezas, entretanto, confia no Divino Amigo e delibera viver-lhe as lições.
        O segundo estima o descanso no vale fundo da experiência inferior. Reconhece as graças que o Mestre lhe conferiu, todavia, prefere furtar-se a elas.
        O primeiro fixou a mente na luz divina e segue adiante. O segundo parou o pensamento nas próprias limitações.
         O “mas” é a conjunção que, nos processos verbalistas, habitualmente nos define a posição íntima perante o Evangelho. Colocada à frente do Santo Nome, exprime-nos a firmeza e a confiança, a fé e o valor, contudo, localizada depois dele, situa-nos a indecisão e a ociosidade, a impermeabilidade e a indiferença.
          Três letras apenas denunciam-nos o rumo.
– Assim recomendam meus princípios, mas Jesus pede outra coisa.
– Assim aconselha Jesus, mas não posso fazê-lo.
           Através de uma palavra pequena e simples, fazemos a profissão de fé ou a confissão de ineficiência.
         Lembremo-nos de que Paulo de Tarso, não obstante apedrejado e perseguido, conseguiu afirmar, vitorioso, aos filipenses:
– “Tudo posso naquele que me fortalece.”


(Do livro “PÃO NOSSO”, Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier)

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Existência de Deus


             Conta-se que um velho árabe analfabeto orava com tanto fervor e com tanto carinho, cada noite, que, certa vez, o rico chefe de grande caravana chamou-o à sua presença e lhe perguntou:
            — Por que oras com tanta fé? Como sabes que Deus existe, quando nem ao menos sabes ler?
            O crente fiel respondeu:
            — Grande senhor, conheço a existência de Nosso Pai Celeste pelos sinais dele.
            — Como assim? — indagou o chefe, admirado.
            O servo humilde explicou-se:
            — Quando o senhor recebe uma carta de pessoa ausente, como reconhece quem a escreveu?
            — Pela letra.
            — Quando o senhor recebe uma jóia, como é que se informa quanto ao autor dela?
            — Pela marca do ourives.
            O empregado sorriu e acrescentou:
            — Quando ouve passos de animais, ao redor da tenda, como sabe, depois, se foi um carneiro, um cavalo ou um boi?
            — Pelos rastros — respondeu o chefe, surpreendido.
            Então, o velho crente convidou-o para fora da barraca e, mostrando-lhe o céu, onde a Lua brilhava, cercada por multidões de estrelas, exclamou, respeitoso:
            - Senhor, aqueles sinais, lá em cima, não podem ser dos homens!
            Nesse momento, o orgulhoso caravaneiro, de olhos lacrimosos, ajoelhou-se na areia e começou a orar também.

(Do livro “PAI NOSSO”, Espírito Meimei, psicografia de Francisco Cândido Xavier)

domingo, 4 de setembro de 2016

Espelho da Vida


Ele sempre vivera naquele tranquilo e fértil oásis no coração do deserto.
Entre tamareiras frondosas, figueiras velhas e verdes, águas abundantes, ele aprendera a amar a vida e a dedicar-se a servi-la. A sua palavra era sábia e o seu coração afável.
Muitas vezes permanecia junto a uma das fontes cristalinas, conversando com peregrinos e viajantes, ou simplesmente contando histórias aos que se lhe acercavam.
Oportunamente, um estranho viandante suarento, após saciar a sede e lavar o rosto, ao experimentar um grande bem-estar, interrogou-lhe:
-Como são as pessoas daqui?
E ele, tranquilo, contra-interrogou:
-Como são as pessoas do lugar de onde você vem?
Queixou-se, o recém-chegado:
-São perversas, invejosas, odiendas. Têm o mau hábito de perturbar o seu próximo, de se envolverem na vida alheia, de gerar conflitos e aranzéis.
-Mas, as daqui, também são assim, com essas mesmas características – respondeu, tranquilo.
- Se assim é, não ficarei aqui. – Explodiu, o viajante.
Logo após alguma reflexão, partiu.
No fim da tarde, acercou-se da fonte um jovem jornadeiro, que sorveu o líquido precioso, refrescou-se, e sentindo que o ancião o observava, indagou, gentil:
-Por favor; pode informar-me como são as pessoas desse oásis?
Conforme acontecera antes, o interpelado contra-interrogou:
-E como são aquelas do lugar de onde você vem?
-Oh! – respondeu, sorrindo – são generosas, alegres, muito camaradas, ajudando ao seu próximo em tudo quanto é possível. Sinto-me muito vinculado a elas.
As daqui também são assim. – Concluiu.
O jovem, interessado, meditou um pouco e logo aduziu:
-Ficarei uma temporada aqui.
Um homem, que ali estivera por todo aquele tempo, observando os acontecimentos, e parecendo-lhe paradoxal a resposta, inquiriu, por sua vez, ao idoso gentil:
-Como é possível que, ante duas perguntas iguais, o senhor haja dado duas respostas diferentes?
-As respostas – asseverou – são perfeitamente idênticas, em relação a cada qual. As pessoas, em toda parte, são iguais, com defeitos e com nobreza, com abnegação e vícios. Conforme cada qual as vê, assim também é aquele que as considera. Sempre carregamos conosco o mundo, que tem os contornos que lhe oferecemos.
A pessoa saudável e amiga sempre a tudo vê por essas lentes, qual ocorre com o avaro e perverso.

(Do livro “A BUSCA DA PERFEIÇÃO”, Espírito Eros, psicografia de Divaldo P. Franco)